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 Amor à Deusa

por Fabio Satoshi Sakuda, F/X
xsakuda@hotmail.com 

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   O calor é intenso. Um dia de verão na cidade mais quente do país só pode ser quente. E esquenta ainda mais quando vejo aquela beldade. Uma deusa no mundo dos mortais. Seus longos e levemente ondulados cabelos de um castanho dourado. Eu não a conheço. Mas mesmo assim, eu a respeito como uma real divindade.

 

   Sigo-a incessantemente até vê-la se dirigir a um homem de uns trinta anos e beija-lo de forma intensa. Viro meu rosto. Continuo no meu próprio rumo até que percebo ela novamente. Seu namorado a acompanha. Eu não me atrevo a olha-la mais de dez segundos. Percebo uma leve fitada no olhar dela, em direção ao meu. Isso só serve para me deixar ainda mais frustrado.

  

   Então, ao atravessar a rua ouço o violento assobio dos pneus de um carro. Viro me instantaneamente para ver o que havia acontecido. O namorado da linda garota foi atropelado. Ela grita como se seu coração tivesse se partido e eu só consigo pensar em como sua voz de veludo consegue me arrepiar os pêlos. Eu a vejo abraçando e acariciando o moribundo e fico com inveja.

  

   De repente um olhar cortante e molhado vira-se para mim. Ela me implora por ajuda. Quando vou me aproximar, ela me toca o braço esquerdo e pede que eu ajude o gúnico homem que já a amouh.

  

   Uma ambulância chega. Alguém obviamente chamou ela na vaga esperança de salvar o coitado que já sangrara demais e que pra mim já estava quase num caixão. Nesse momento pensei em como flertar ela de forma suave, sem deixar suspeita de que eu estava fazendo o que eu estava fazendo. Mas ela sobe na ambulância. Antes de fecharem a porta do veículo ela me pede para que a acompanhe.

  

   No hospital, após ela se acalmar, eu tento falar-lhe. Perco a voz diante toda aquela beleza e percebo o quão magnifico é ver seu lindo corpo por inteiro, todo encharcado. Mesmo que seja de sangue... O sangue de seu namorado atropelado.

  

   Ela olha em meus olhos e finalmente me agradece com sua voz, de uma calma triste. Seus olhos verdes com um brilho amendoado são realçados pelas lagrimas. O chão já se encontra cheio destas. Todas de uma só pessoa. De uma deusa.

  

   Após o agradecimento ela diz de forma sensual que eu devia me sentar ao seu lado. E eu me sento. Durante uma longa conversa sobre ela, seu namorado e a vida deles, sobre um futuro casamento, ela me diz que nunca o amou porém ostenta um carinho enorme por ele. Me sinto um crápula por me aproveitar da dor e sofrimento desta garota linda. O que não me impede de, disfarçadamente, tocar sua coxa suavemente, subindo para a cintura e subindo mais. Ela não me impede de beija-la nem de acariciar seus seios.

  

   Mas sinto em sua expressão uma certa culpa que ignoro para apreciar um momento único na vida de um simples homem.

 

   Na sala de operações uma pessoa morre. Enquanto isso, uma outra pessoa finalmente descobre o que é viver.          

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