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gLamurias imortaish 

por Fabio Satoshi Sakuda, F/X
xsakuda@hotmail.com

 

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    A noite está fria. Chove com violência. Como se minha alma estivesse sendo refletida no clima. O frio do meu corpo, o frio da noite. Meu coração bate sem muita força. Não há porque pulsar já que meu corpo não precisa de sangue ou minha alma de amor. A única coisa que move minha vida imortal é o desejo cada vez maior de ter.

  

   Eu QUERO sangue! Mas só posso sugar o sangue da inocência. Não me atrevo a morder freiras nem crianças indefesas. Só me alimento das virgens. Garotas já em idade praticamente adulta e que tem um corpo imaculado. A inocência delas é doce. As vadias têm o sangue amargo.

  

   Eu me lembro de quando bebia vinhos. O odor levemente adocicado que me atormentava, o sabor... não consigo me lembrar do sabor. Não bebo vinho à quinhentos anos. Vivo hoje da virgindade. Aquele período em que a vida se resume no amor de infância, no cavaleiro de armadura reluzente com o rosto de Lestat tirado de um ator de filme hollywoodiano.

  

   A virgem se entrega a minha sede. Ela a aplaca sem eu precisar força-la. Mas hoje seu sangue não é tão doce quanto o de quinhentos anos atrás. Naquela época  a inocência era fácil de se achar. Hoje, até as virgens já não são mais doces. São reflexos dos tempos modernos onde uma criança perde sua infância para a fome. Onde a violência não é mais um fruto apenas da defesa pessoal e própria sobrevivência e é usada também para se ter STATUS. Hoje, ser temido é melhor que ser adorado. Ser um vagabundo sem rumo na vida é melhor que ser um bom trabalhador.

  

   A quem eu quero enganar... Tudo isso existe a muito mais tempo do que o primeiro vampiro. Só que hoje, crianças também são obrigadas a aprender a lição.

  

   É deveras humilhante o fato de ter de viver do sangue maculado pela vida. Vida que era sinônimo de bem agora é tortura. E morte, beneficio de quem tiver coragem ou... sorte.

   

   Achei que era tortura viver como um chupador de sangue eternamente mas, não percebi que viver humano era viver vampiro por menos tempo. Ser torturado pela fome, pelo amor impossível, pelo controle de uma Camarilla ainda maior e, mesmo assim, ainda mais secreta e desconhecida. Todo sofrimento que vivi e irei viver é uma benção em relação a vida de um homem simples. O preconceito de ser um vampiro não é nada comparado ao preconceito de não ser branco, de não ser rico.

  

   Hoje a chuva é mais do que minha alma. Ela é o choro. O choro da humanidade falida. Da vida destruida

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