No fim do abismo.

por Fabio Satoshi Sakuda, F/X
xsakuda@hotmail.com

   No começo da noite, no começo das trevas eu cubro meu corpo e deito meu rosto no travesseiro. A visão fica escura e então começo minhas divagações.

   Morte. Abandono. Fim. Por um novo começo. Como resolver tantos impasses na minha vida assim? Como devo viver com tanta coisa acabando comigo? Por que continuo sempre assim? Por que continuo me enganando e me torturando? Simples. Porque só tenho uma visão e preciso de outra que me dê novos resultados. Porque estou só.

   Pode ser só um tortuoso caminho, cheio de armadilhas, inimigos e trilhas falsas. Eu poderia atravessar isso, a custo, mas sim, atravessaria. Mas e se eu tropeçar e cair num buraco? Quem vai me segurar? E quando eu tiver saído do tal abismo será que essa pessoa vai me dar um abraço e dizer que estará comigo sempre e que se cair num próximo abismo precisará de mim?

   Eu estou cheio de pessoas com quem contar se tropeçar mas nenhuma estaria pronta a dar-me o tal afago. Estou acompanhado de um grupo enorme mas estou só.

   Meu passo ecoa solitário nas trilhas da vida, mesmo com a tropa que anda à minha frente. Então caio num buraco enorme. Todos me vêem cair mas ninguém me ajuda. Todos dizem ser impossível me tirar do caminho inevitável do fim.

   Eu caio. Continuo a cair. Cada vez mais rápido. E eternamente só. Gotas escorrem de meus olhos. E misturam-se ao sangue que vaza de meus poros. De repente vejo para onde vão os miseráveis que caem nos abismos. Eles atingem o fim. Da queda, do tormento, da malfadada vida. Este foi meu destino. Mais um corpo na escuridão do finito infinito.

   Então sinto mãos suaves a me acariciar. Elas pedem para que eu volte. E eu acordo deste temível pesadelo. Levanto meu rosto do travesseiro e vejo a dona das mãos. Esta me abraça. Sinto suas mãos correrem minhas costas. E com minha cabeça apoiada em seu ombro gotejo lágrimas de alivio. Pois agora, no silencio feito na hora certa, sinto-me, mais do que nunca, seguro do meu futuro.