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     Justiceiro

Uma historia ficticia e que nao faz parte da cronologia dos
Justiceiro.
Copyright Marvel Comics.
Em andamento.  - 1 -

por Fabio Satoshi Sakuda, F/X
xsakuda@hotmail.com

justi01.jpg (103048 bytes)
Frank Castle, um homem contra a mafia.
 

   Daqui de cima, eu posso ver claramente. Sao tres carros. Em cada carro, duas pessoas com armas grandes. Os outros podem ter revolveres ou alguma arma branca. Se eles foram descuidados a ponto de deixar esse angulo aberto, eles merecem uns tiros de sniper. Eu fui treinado exaustivamente nisso quando servi no Vietna. Logo, tres morrem com tiros certeiros. Dai eles correm como formigas, procurando um abrigo, sem saber que eu estou a cem metros de distancia.
   Martini eh um grande sortudo. Matou um rival de Micheli sem querer e ganhou a confianca do chefao. Manteve-se no posto alto com mais sorte ainda, fazendo acoes que ninguem aceitaria. Porem, eu nao acredito em sorte.
   Eu vejo tres deles em posicao vulneravel. O bom de um sniper eh que eles demoram pra descobrir de onde vem os tiros. Eu mato dois, deixo um ferido na coxa. Nada que possa matar.
   Agora, chega de brincar. Eu pego armas pra distancias curtas e vou atras de Martini. Ele fugiu pra dentro do restaurante onde ele vinha comer todo dia. Abusou da sorte. Pessoas juradas de morte nao deveriam ter habitos diarios.

   Eles estao assustados, nao sabem de nada, quantos sao, que armas usam, por onde atacam... Eu uso esse medo. Deixei explosivos numa lata de lixo. A explosao deixa eles mais apavorados, devem pensar que eh um lanca missel. Desse jeito, eles cometem mais erros. Pra comecar, um dah um tiro pra tras sem saber quem estah se aproximando e acerta um companheiro. Depois, um tropeca e grita, acaba levando tiro. Martini abusou da sorte mesmo. Eles sao piores que amadores.
   Sobrou tres atras do carro. Eles estao numa otima posicao, costas protegidas, laterais vigiadas, frente blindada... Soh esqueceram que eu os ataquei por cima antes. O primeiro eh sempre facil. O segundo reage mas nao tem tempo o suficiente pra fazer algo significativo. O terceiro desvia e se abriga atras de uma parede. Esconde e atira, coisa de filme policial. Isso nao eh um filme. Granadas sao armas de guerra.

   Eu entro no restaurante sabendo que estarah cheio de armas apontadas pra porta. Mas nao pra janela. Meu abrigo eh um balcao blindado que protege o caixa. O deles, mesas e o balcao do bar. Se eu usasse armas comuns, eles ateh estariam protegidos. Mas minhas balas dentro da sub metralhadora foram feitos pra perfurar ateh mesmo concreto. Ainda assim, sobra alguns.
   -Sei que eh voce, Justiceiro! Vem me pegar! Seu Martini estah servido! Com muito gelo!
   Ele eh um imbecil que deve passar mais tempo a frente da TV que em campos de batalha.
   -Eu sou muito pior do que os caras que voce jah enfrentou, Castle! Se levanta e me enfrenta!
   Existem duas razoes pra ele estar fazendo isso. Uma, eh a de que eu o ataque sem pensar, motivado por uma moral, que eu nao acredito. A segunda, eh a de afirmar sua posicao, mostrar pros seus subalternos que ele eh o chefe. Ele eh corajoso. Mas muito burro!
   Nao ha muitos atiradores, a maioria morreu ou fugiu. Eu crio uma distracao e ouco os tiros. Sao tres. Acho que Martini nao atirou. Quatro. Nessa situacao, eles nao vao vir pra cima. Estou sem granadas. Mas isso nao eh um problema. Abro a porta e pego um espelho. Atirar assim eh muito ruim. Precisa ter muito preparo. Eu tenho. Soh quero Martini, o resto morre.
   -Anda, Castle! Voce quer eh a mim!
   Eu saco a faca. Nao preciso de nada alem disso. Ela estah afiada o suficiente pra cortar uma melancia suavemente.
   -Venha tomar seu Martini, Frankie!
   -Voce esqueceu de picar o gelo!
   A arma cai quando a faca atravessa o pescoco. Eu saio e pego o que eu havia preparado nos fundos do restaurante.
   Aquele miseravel que eu apenas feri com um tiro na perna ligou pra Micheli. Logo, o restaurante tah cercado, com uma centena de homens. Nao levaram dois minutos pra chegar. Mas eu nao levo um pra estar a distancia segura. Nao gosto de estar perto de explosoes de gas de cozinha. Um contador zera e cria uma chama pequena, mas suficiente pra explodir o gas que sai do tubo que eu soltei.

 

   -Mais uma vez, o Justiceiro matou mafiosos no nosso territorio. Sabe o que isso significa, Carter?
   -Que teremos menos horas extras, capitao?
   -Nao, Carter. Significa que tem algo errado no nosso ninho. Nos tomamos conta de toda essa area, Carter. Tudo, da banca de frutas do Melvin ateh o restaurante italiano que explodiu hoje.
   -Mas Capitao, o Justiceiro age por toda a cidade e ateh fora dela. Nao eh nossa culpa.
   -O resto nao importa, Carter. Aqui, ele nao podia pisar. No entanto, ele veio, causou terror, explodiu bombas, matou pessoas e danificou propriedades. Nao podemos deixar isso impune.
   -E como vamos prender o Justiceiro se a maior parte da tropa policial ou defende ele ou tem medo dele, Capitao?
   -Eu vou pegar ele, Carter. Pode juntar os melhores homens de nossa divisao. Eu vou pegar o filho da puta e fazer ele pedir perdao por sujar o meu jardim. Ele vai pagar caro, Carter. Muito caro.

 

   Eu chego no Broklyn, como se nada tivesse acontecido. Vejo pessoas comuns, fazendo coisas comuns. Eu penso, eh por isso que eu luto. Pra que as pessoas nao tenham que passar pela dor que eu passei. Ainda falta muito, mas um dia...
   -Ae, tio! Eu to com fome, voce nao tem uma grana pra me arranjar?
Esse garoto nao tem nem quinze anos e seus olhos estao vermelhos demais.
   -Vah buscar ajuda num hospital. Voce eh muito novo pra jah estar abusando assim da vida!
   -Ah, cala a boca! Tira a carteira logo senao eu te furo, tah ligado! Anda, dah logo!
   Ele tem uma faca, a que eu tenho presa no interior da manga de meu casaco eh maior e faz mais estrago. Porem, eh soh uma crianca.
   -Vai pra casa, filho. Sua mae vai sentir falta dessa faca pra te descascar umas macas.
   -Vai se fuder, meu irmao! Voce nao tem nada a ver com a minha vida!
   Ele me ataca com vontade, acho que tentou me matar. Mas eu jah lutava com objetos afiados antes de a mae dele ter sua primeira menstruacao! Eu torco seu pulso, fazendo a faca cair e ele gritar. Puxo o corpo magro dele e retorco os dois bracos pra tras das costas.
   -Agora, qual o seu nome, garoto?
   -Vai de fuder! Eu vou te catar, meu irmao! O mundo eh pequeno e da proxima vez que a gente se trombar eu vou te matar!
   -Qual o seu nome?
   Nao sei se eh o meu tom seco, nao sei se ele sentiu que tem uma submetralhadora na minha cintura...
   -Ma.. Michael...
   -Entao, Michael. De hoje em diante, saiba que eu to atras de voce. Se eu ver voce usando drogas, roubando ou fazendo alguma coisa assim, eu quebro teus dois bracos e soh te deixo voltar pra casa se conseguir plantar bananeira!
   -Sim, senhor...
   -Volta pra casa e vai estudar!

 

   Sao duas e sete. Duas e sete. Meu leite esquentou no microondas, eu tenho uma caixa de chocolates a tres centimetros da mesa onde estou. Comeco a comer, o microondas avisa de novo que meu leite estava quente a um minuto atras. Mas eu nao gosto de meu leite quente, eu vou esperar esfriar. Com o chocolate entre os dentes, eu continuo meu trabalho. Por que coloquei meu leite pra esquentar se eu nao gosto dele quente?
   Sao duas e onze. Duas e onze. Faltam dois minutos. Meu leite jah estah bom, nem quente, nem frio. Foi por isso que esquentei ele, por que nao gosto dele frio. Dai eu deixei esfriar por que nao gosto dele quente. Duas embalagens de chocolate, uma azul, outra vermelha. Agora eu vou comer uma amarela. Amarela.
   Sao duas e treze. Ele sabe que nao gosto que se atrase, nem que chegue cedo demais. Se ele atrasa, eu fico impaciente. Se ele chega cedo, pode me pegar fazendo alguma coisa. Entao, meu colega de trabalho me traz mais um deles.
   Sao duas e vinte e dois. Duas e vinte e dois. Meu amigo foi embora, mas me deixou um pouco de diversao. Esse eh dificil. Esse eh muito dificil. Hehe. Eu nao gosto de facil, mas nao gosto de dificil tambem. E esse eh muito dificl. Mas eu vou pegar, por que isso pode ser divertido, e muito divertido. E eu gosto de divertido. Divertido eh bom. Bom. Cinco chocolates. Uma embalagem azul, uma vermelha, uma amarela, uma verde e uma rosa. Sao cinco. Melhor parar de comer. Eu nao quero engordar.

 

   -Capitao. Hoper e Smith nao podem participar da missao. Eles alegam que tem uma familia por zelar.
   -Hoper, huh? Diga ao imprestavel que lamba minhas botas pra comprar o leite dos filhos dele! E Smith... que Smith? Eh o de bigode?
   -Nao, Capitao. Eh o que foi pego a tres anos levando revistas pornograficas confiscadas.
   -Ah, o magrelo, com nariz grande?
   -Nao senhor, esse eh Tenente Sean Smith, Capitao. Estou falando daquele que come todas as rosquinhas que sobram de manha.
   -Ah, todos gostam de rosquinhas, Carter! Nos somos policiais! Ha! Policiais e rosquinhas sao tradicao.
   -Concordo, Capitao. Mas quanto a nossa missao...
   -Sim, Hoper e Smith podem lamber meu traseiro sujo depois que eu voltar com aquele miseravel que tem andado pesado na nossa casa! Chame apenas os mais machos! nao quero bichas com a gente nessa missao! Isso eh coisa pra macho, pra quem jah tem no minimo quinhentas horas de tiros e pelo menos duas acusacoes de assassinato que ganharam medalha de coragem! Chame Smith, ele eh um bom sujeito!
   -Aquele magro e com nariz grande, Capitao?
   -Nao, Carter! Aquele que come minhas rosquinhas pela manha quando devia era ter saido pra ronda.
   -Mas ele me disse que nao poderia participar por que tem uma familia por zelar.
   -Entao mande ele ficar de quatro por que quando eu trouxer o Justiceiro pro meu xadrez, esse bicha vai ter que dar pra ele! Ha!
   -Sim senhor, Capitao.

 

   Do meu apartamento, eu planejo tudo. Aqui tem o que eu preciso. Discricao. Anonimidade. Muito barulho do lado de fora pra ouvirem o que eu faco aqui dentro.
   Eu vigiei Johnny Mortalo durante um dia inteiro. Roubei enderecos de sua agenda. Telefones de seu celular. Ouvi informacoes secretas. Vi ele levar prostitutas tailandesas menores de idade pro seu quarto imundo. Ele eh o tipico mafioso peh de chinelo com pretensao. Esbanja dinheiro. Eh violento e burro demais.
   Unindo informacoes que peguei no Palm de Martini, descobri uma operacao secreta feita em conjunto com muitas mafias. Eles sequestram pessoas que nunca mais aparecem vivas. Uma vez, a dois meses, o vice campeao de K-1, Benicio Puerto, sumiu apos um arrombamento sem roubo em seu apartamento em Los Angeles. Ele apareceu a tres dias, num mar violento de Pernambuco, no Brasil, onde a destruicao de corais por causa da construcao de um porto acabou abrindo espaco para tubaroes se aproximarem e buscarem, principalmente surfistas.
   Se eu estou certo, eles nao levaram Benicio por causa de seu status ou dinheiro. A Mafia nao usou um tostao do dinheiro do pobre coitado. Tambem nao fizeram propaganda do assassinato, na verdade, tentaram encobrir, afinal, tubaroes gostam de carne. Se nao fosse metade de uma arcada, mais um teste de DNA, nunca saberiam que era ele.
   Tambem nao era divida. Se fosse, eles teriam confiscado alguma coisa pra compensar. Serah que eles tinham medo dele? Nao sei. Benicio era um rapaz pacato, apesar do esporte violento, era muito gentil com os fas e ainda morava com a mae viuva e dois cachorros beagle. Preciso saber alguma coisa que me de uma ponta nessa operacao. Benicio nao foi o primeiro, nao deverah ser o ultimo, mas isso soh ateh eu resolver acabar com essa loucura.

 

   Sao Dez e dezesseis. Dez e dezesseis. Eu gosto desse por causa dos entalhes na madeira da empunhadura. Gosto, mas prefiro esse, que tem o bico bem longo e quando atira, faz um som estranho por causa do eco no tubo. Voop! Voop! Mas esse eh bom, esse eh! Nao mata, mas tambem nao deixa acordado. Bam, e o cara pode ser um elefante, mas ele cai. He.
   Sao dez e vinte e sete. Dez e vinte e sete. Doze segundos. Doze segundos pra montar o revolver, colocar as balas e preparar o tiro. Doze. Tem cinco embalagem. Uma eh azul, uma eh vermelha, uma eh amarela, uma eh verde e a outra eh rosa. Nao posso comer mais, senao eu engordo. Mas eu vou emagrecer muito se nao comer. Eu preciso comer. Agora eh o preto. Preto.
   Sao dez e quarenta e seis. Dez e quarenta e seis. Eu coloco meu chapeu, nao estou careca, mas tenho vergonha de ter pouco cabelo. Nao eh muito pouco, mas nao eh muito muito. Eu preciso beber agua. Sem agua, eu fico com sede. Mas com muita agua eu afogo. Tem que ser pouco, mas nao pode ser pouco demais.
   Sao onze e meia. Onze e meia em ponto. Ele chega, como foi mandado. Eu gosto quando chega na hora. Nem cedo, nem tarde. Em ponto. Ele pegou as informacoes falsas do meu amigo, veio direitinho ver e eu estou vendo ele. Ele veste azul. Nem preto, nem branco. Ele veste azul. Tem partes brancas e pretas, mas ele veste quase tudo azul. Azul. Vermelho. Amarelo. Verde. Rosa, Preto. E branco. Eu comi um branco no caminho. Andar me dah fome.

 

   Estou vigiando Johnny Mortalo em uma transacao de drogas. Eu soh espero eles sairem pra pegar um por um. Primeiro, dois segurancas caem duros no chao. Quem estah atras nem percebe que foi tiro, meu silenciador eh otimo. Um terceiro imbecil vem em seguida e agora eles percebem que estao sendo mortos.
   Quando eu estou pra acertar o amigo porto riquenho de Johnny, um tiro pega no meu braco, bem o suficiente pra rasgar um musculo. Eu jah estou resistente a dor, mas ainda assim, minha mao se abre, soltando a arma. Nao havia um sniper quando eu vasculhei antes. Soh pode ser armadilha. Soh pode.
   Eu corro em direcao a uma janela qualquer. Lah dentro, tem umas dez pessoas, mas o sniper eh mais perigoso. A area eh muito aberta, ele errou minha cabeca por um tris.
   Dentro, eu me escondo atras de uns containers de entulho. Estou atirando, matei mais tres, mas com uma coisa eu nao contava. O sniper deve ter sensor infra vermelho! Ele atira do lado de fora, pega a janela e tenta me acertar. Nao pode ser. Eh um tiro muito dificil, nao existe ninguem tao bom assim!
   O ultimo idiota morre, soh Johnny estah vivo, escondido atras de um pilar, sem conseguir ao menos destravar a arma. Eu ouco os estalos. Tec Tec. Ele nao consegue entender a trava. Quando tento pular pra outro abrigo, pra pegar logo Mortalo, eu quase sou acertado por um tiro na perna. O sniper. Quando eu olho noto um detalhe, que acho ser mentira. Ele estah de peh. Estah atirando sem tripe em mim e quase me acerta.
   Volto pro container de entulho. Olho pra janela e tento entender como ele faz isso. Ninguem tem uma mira tao precisa quanto essa. De peh, a chance de um sniper me acertar seria minima. Ainda tendo perigo de acertar nos companheiros... Ele ou eh muito sortudo ou muito burro.
   Agora, vejo mais uma coisa. A arma que ele usa nao eh um rifle para sniper, eh uma arma pequena. Talvez ateh um trinta e oito comum. Ele estah fazendo tiros de sniper, a mais de cinquenta metros, de peh e com uma arma pequena? O que eh isso? Um conto de fadas?

 

   Sao onze e quarenta e dois. Onze e quarenta e dois. Ele eh bom, mesmo que eu nao estivesse atirando pra testar, eu acho que ele nao morria. Quer dizer, esta arma nao mata, tambem nao deixa acordado, mas nao mata nao. Mas se matasse, acho que ele ficava acordado. Ele eh bom, e eh forte. Nem ligou pro tiro que eu dei no triceps dele. He. Eu quero brincar mais de perto. Quero ver como ele eh. Preciso do chapeu. Eu tenho vergonha por ter pouco cabelo. Nao sou careca, mas tambem nao tenho muito cabelo.
   Sao onze e quarenta e quatro. Um carro parou perto, eu posso matar todo mundo que sair dele. Mas isso nao tem graca, eles sao muito fracos. E eu nao gosto de muito fraco. Mas tambem nao gosto de muito dificil. Mas o Justiceiro eh divertido. E eu gosto muito de divertido. Divertido eh legal. Facil eh muito facil e nao eh legal. Legal eh divertido.

 

   -Atencao, Carter. Ele foi avistado aqui dentro, e aqueles presuntos ou sao tres jogadores de futebol americano depois de um touch down doentio ou foram mortos e empilhados.
   -Ou morreram no mesmo lugar e consequentemente cairam no mesmo lugar, Capitao.
   -Ha! Claro. Estou falando de um assassino, Carter! E nao de David Coperfield, aquele bicha cabecudo! E essas coisas nao acontecem, eh uma ilusao!
   -Capitao, acho que tem gente lah ainda. Eu ouvi barulhos.
   -Smith, vai pela esquerda, espera perto da porta. Atira em quem for, se nao for o Justiceiro, eh um mafioso qualquer!
   -Qual dos dois senhor?
   -Hein? Que dois?
   -Temos dois Smiths no grupo, senhor.
   -Ah, eh voce, o viado que bate punheta com material apreendido! Anda logo!
   -Capitao... Esse nao eh o que rouba revistas confiscadas... Ele eh o que mandou flores pro senhor quando o senhor se feriu ano passado caindo da escada.
   -Ah, eh? Bem, me lembre de dar um chute quando ele voltar. Pra macho, ele devia mandar charutos!

 

   Mortalo estah nervoso, respira e engasga no seu ar seco. Ele deve estar pensando: serah que ele morreu? Serah que estah seguro pra ir embora? Serah que ele nao tah do meu lado preparando pra me matar?
   Eu vejo o sniper, olhando pra minha direcao, soh fechando meu angulo pra nao poder matar Mortalo. Nao adianta, ele eh bom e eu nao tenho nada pra matar ele daqui. Uma pena, por que ele jah me encheu o saco.
   Chega, eu penso. Vou matar logo Johnny e ir pegar esse sniper. De repente, eu ouco um tiro. Eh da arma de Mortalo. Ele deve ter se suicidado pra nao morrer nas minhas maos. Idiota.
   Sem esse peso, eu miro pro sniper. Ele tem bons olhos e percebe. Eu praticamente o desafio a ver quem tem a melhor mira. Ele aceita a proposta. Duas armas pequenas, pessimas pra tiros a longa distancia, porem suficientes.

 

   Sao onze e cinquenta e sete. Onze e cinquenta e sete. Eu jah devia ter ido pra cama, mas eu nao sou mais crianca. Nao sou mais crianca, mas o Justiceiro estah bricando comigo. Ele mira em mim com uma arma, calibre 39. Trinta e nove. Eu vou vencer, eu sou melhor, todo mundo me disse isso. Eu atiro melhor que todo mundo, eu penso melhor que todo mundo. Se ele atirar agora, ele acerta meu braco. Se ele se mexer um pouco, pode errar. Mas se ele acertar a mira, pode pegar minha cabeca. Ele mira bem. Ele mira bem.
   Sao onze e cinquenta e nove. Onze e cinquenta e nove. Eu nao vou atirar, ainda nao. Ainda eh cedo. Eu vou esperar dar meia moite em ponto. Em ponto. Nem cedo, nem tarde. Em ponto. Por que se eu atirar antes, ele pode nao ter tempo pra atirar e eu nunca vou saber se ele podia mesmo me acertar. E se eu atirar depois, eu morro sem saber se podia ter matado ele.


   Nao acredito em como ele eh frio. Me olha fixo, sem tremer. A arma tah apontada e o gatilho cocando. Eh agora. Eh agora

   Eh meia noite em ponto. Em ponto. Meia noite.

   Ele vai atirar. Eu tambem tenho que atirar rapido.

   Meia noite. Em ponto. Eh meia noite.

   O tempo congela quando dois gatilhos atiram ao mesmo tempo. Duas balas saem quentes dos revolveres. O estrondo fica surdo e o ar rasga enquanto duas balas passam em destinos contrarios. Quando o ar que rasgou a partir dele chega a mim, eu sinto formigar meu peito. Ele me acertou. Me acertou no meio do peito.

   Meia noite em ponto, eh meia noite em ponto. Ele acertou meu braco, eu acertei o peito dele. Ele nao morre com isso, nao morre nao. Meu tiro eh pra atordoar, nao pra matar. Nao fura kevlar. Ele tah de kevlar, eu sei. Ele nao eh burro. Ele eh dificil. Muito dificil. Eu nao gosto de muito dificil. Mas tambem nao gosto de muito facil. Muito facil nao tem graca. Mas o Justiceiro eh divertido. Ele eh muito dificil, mas eh divertido. E divertido eh bom. Ele veste azul. Azul, vermelho, amarelo, verde, rosa, preto e branco. Eu comi sete chocolates. Sete. Eram duas e sete. Meu leite estava quente no microondas. Eu tinha uma caixa de chocolates. Sete chocolates. Eu deixei esfriar. Eu nao gosto de quente. Mas eu esquentei por que nao gosto de frio. Sete. Sete. Sete. Sete. Sete. Sete.

 

   -Eu ouvi tiros, Carter! Ele estah lah! Invadir, homens, invadir!
   -Capitao, Smith disse que o Justiceiro tah sozinho, atirando pra janela. Tem mais gente! Tem mais gente por ai.
   -Droga! Abriguem-se. Espreita, espreita. Droga!
   -Senhor, Smith disse que o Justiceiro tah caido, tomou um tiro.
   -Me dah esse radio! Smith! Smith, vai lah e colhe o rabo daquele idiota! O imbecil deve ter se acertado com um ricochete! Ha!
   -Capitao, Smith disse que o Justiceiro tava de colete. Foi a ultima coisa que ele disse antes de morrer.
   -Filho da puta, agora mata meus homens tambem? Eu vou capar ele e fazer churrasco daquilo! Dai eu vou dar pra ele comer! Aquele corno! Smith, agora voce eh o unico Smith aqui! Vai lah dentro e pega o Justiceiro. Hoper, vai fazer a cobertura!
   -Senhor, Hoper nao veio, ele disse que tem uma familia por zelar.
   -Que viado! Entao, vai voce Aaron! Eu nunca gostei desse teu nome feio mesmo! Voce cobre o Smith e eu cubro voces. Anda!
   -Capitao, o Justiceiro nao eh tao mole assim. Precisamos elaborar um plano mais consistente...
   -Quer consistencia?! Pega aqui, Carter! E nao me enche o saco! Eu sei o que eu to fazendo! Capone jah passou por este bairro, e Capone nao era um merda como o Justiceiro.
   -Capitao, o senhor nem havia nascido quando Al Capone morreu.
   -Deixa de observacoes inuteis, Carter! Estamos com um atirador escondido em algum lugar, mirando nossos traseiros, um doido muito armado e pronto pra matar qualquer um que se mexa e voce vem com piadinhas?
   -Tem alguem se aproximando, senhor.
   -Droga, olha a cara dele! Eh um daqueles debil mental! Tira ele daqui, ele vai morrer se ficar aqui!
   -Capitao, eh melhor dizer Sindorme de Down, debil mental nao eh politicamente correto e nem verdadeiro.
   -Que se dane, eu nao quero civil morrendo tambem! Jah basta avisar a familia do Smith, aquela bicha punheteira!
   -Tudo bem, senhor, eu vou tirar ele daqui!
   -Maldito! Depois me perguntam por que eu nao gosto desse tipo de gente!

 

   Sao meia noite e dez. Doze mil, novecentos e dezesseis degraus. A escada era grande, cheia de degrau. Eu desci correndo. Nao muito. Se correr muito, eu posso cair e me machucar. Se nao corresse, o Justiceiro podia fugir. Ele veste azul. Azul
   Sao meia noite e doze. Tem um homem de azul se aproximando de mim. Nao eh o Justiceiro, mas veste azul. E tem branco e preto tambem. Mas nao eh o Justiceiro, eh um muito facil. E muito facil nao tem graca. Mas muito dificil eu tambem nao gosto. Mas o Justiceiro eh divertido. E divertido eh legal.

   -Huh... Cidadao, sinto te incomodar, mas a area estah interditada. Acao policial, eh muito perigoso aqui. Seria melhor o senhor voltar pra lah, ficar escondido e esperar.
   -Eu nao posso esperar. Eu jah estou atrasado. Estou atrasado. Jah eh meia noite e treze. Meia noite e treze. Ele eh muito dificil, voce me entende? Eu nao gosto de muito dificil, mas nao gosto de muito facil. Voce eh muito facil.
   -Hein? Desculpe, eu nao entendi o que disse... Sua... deficiencia, eu entendo como eh, o filho do amigo do meu primo tem esse problema, eu sei como eh que eh. Por favor, aqui voce corre perigo de vida. Espero um pouco pra lah, ok?
   -Eu jah estou atrasado, moco. Sao meia noite e quatorze. Meia noite e quinze agora. Eu preciso ir.
   -Mas voce nao pode, eh perigoso!
   -Eu posso! Eu posso! Eu posso! Eu posso! Eu posso!
   -Calma, olha...

   Sao meia noite e quinze, meia noite e quinze. Eu tenho que correr. Nao muito, senao eu posso me machucar. Mas nao pouco senao eu me atraso. E eu nao posso me atrasar, senao ele pode fugir. Mas se eu chegasse cedo, podia ser pego de surpresa. Eu tenho que pegar ele.

 

   Eu ouco um tiro de fora. Meu peito nao doi mais e eu jah consigo levantar. Ele acertou bem em cima do coracao, sem kevlar eu tava morto. E ainda por cima, tem os policiais agora. Esse imbecil entrou atirando em mim, sorte que eh muito ruim de mira e tava em panico! Mas ainda assim, precisei matar. Senao eu que morria.
   Se tem um policial, tem outros fazendo cobertura, com certeza. Eu preciso arranjar um jeito de fugir, rapido. Nao gosto de matar policiais, meu negocio eh soh criminosos.
   Eu nao devia deixar isso inacabado com aquele sniper. Mas agora eu tenho que sair antes que isso vire uma confusao daquelas. Policia, o melhor atirador que eu jah vi, mafia... Isso vai ficar muito complicado daqui a alguns minutos.
   A saida pelos fundos, eu bloqueei pra nao deixar Mortalo fugir quando eu atacasse. E agora o tiro saiu pela culatra. Mas isso nao eh problema. Ainda posso sair pela frente. Mas preciso cuidar dos policiais antes. Preciso fazer o reconhecimento, quantos deles tem, que armas estao usando. Pelo uniforme do que eu matei, nao eh uma forca especial, por isso eles nao devem ter nada muito sofisticado. Deve ser uma patrulha comum.
   Eu olho por uma janela pra saber quantos sao. A minha surpresa eh que nao tem ninguem. Eu nao vejo nada. Nao pode ser, um policial sempre anda pelo menos com um parceiro. Mas nem o carro estah. Eu olho mais e saio cauteloso. Isso eh muito suspeito, apesar de nao ser o estilo da policia. Isso nao se ensina na Academia.
   De repente, eu ouco o assobio de um pneu em arrancada. Um carro da policia, vindo na minha direcao. Eu desvio e entro na janela de uma das casas. Quando saio, o carro estah parado, motor desligado.
   -Sabe que horas sao? Meia noite e vinte e oito. Meia noite e vinte oito jah eh quase meia noite e meia. Estah na hora de irmos.
   Quem eh esse? Ele obviamente eh um portador da Sindrome de Down. O seu tipo facial eh claro. Ele tem uma fala confusa tambem. O que ele estah fazendo sozinho na rua a uma hora dessas?
   -Calma, amigo. Volta pra casa, o negocio aqui vai esquentar! E isso vai ser muito perigoso.
   -Sao meia noite e vinte e nove. Jah eh quase meia noite e meia.
   -Anda logo, porra! Voce quer morrer?
   Eu ouco um tiro. O sniper. Era ele! Foi tao rapido que eu nao tenho tempo de reagir. Caido no chao, tudo fica nublado. A bala que ele atirou nao mata. Mas estava drogada.

  

continuar....